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LIBERANDO VERSOS...
Antonio Miranda
Os versos ficam liberados de toda e qualquer ortodoxia, fazendo cânones, renega regras e postulados, mas os poetas nem sempre fazem uso radical de uma liberdade. Livres de ismos, desconfiados de manifestos e infensos às academias, os poetas do século 21 parecem assustados com a própria criatividade, livres da torre de marfim.
Leituras em bares, em universidades, performances ao ar livre animam a cena poética.
Poemas, shows, poemações, recitais, poemas murais, tudo é espaço para a poesia, que não fica restrita à superfície da folha, e supera a voz do vate, em montagens cênicas, em músicas e exposições, em vídeos e em projeções em feiras do livro e em salas de aula. A poesia sai do folio e ganha fôlego verbivocovisual.
É a hora e a vez da poesia?
Festivais, saraus, maratonas, veladas trazem o poema à convivência dos especialistas e dos aficionados. Mas parecem não travar a venda de exemplares, restritos aos lançamentos em restaurantes e livrarias, ou pelo correio e internet, para o usufruto de grupos de simpatizantes e aficionados, enquanto as editoras insistem no óbvio, na edição dos clássicos e dos célebres.
As edições dos autores e as tiragens modestas se multiplicam por toda parte, contradizendo. Mas é na internet (agora...) onde a poesia se desterritorializa e se propaga (quase) epidemicamente, aos milhares, mediante blogs e revistas eletrônicas, mediante releases e e-mails, lidos se reenviados, em circuitos e trajetórias erráticas, constituindo tribos e grupos de discussão, em sites e até em antologias que animam um esforço coletivo de conquistar espaço e público. Apesar da tendência da edição virtual, os poetas buscam legitimidade e visibilidade em obras impressas. O livro continua, e continuará sendo, o veículo consagrador da criação poética.
Mas cabe ressaltar um recurso cada vez mais recorrente e efetivo — o concurso, o prêmio, para o reconhecimento público do poeta. Certamente aberto aos autores, disputado por criadores de todas as latitudes e estilos, balizado e validado por filtros de seleção a cargo de especialistas e criadores reconhecidos, viabilizam a constituição de antologias que espelham o estado da criação/renovação estilística em escala nacional e internacional. Revela novos talentos, reafirma nomes consagrados, permite o confronto — a difusão da poesia entre mais amplos e diversificados meios, que supera os círculos fechados das academias e das corporações culturais mais convencionais.
Há concursos e concursos. Há-os de todo tipo, para todos os fins, inclusive os comerciais, às vezes duvidosos, para garantir rentabilidade ao empreendimento. Vale a pena tentar...
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